1.4.06

Respostas da Mariana ao Desafio IX

Resposta A

Super Miss Pahia contra a Fruição

O ano é 2008. Não, isso não é outra fábula pessimista e futurista de George Orwell ou Isaac Asimov, tampouco um texto de ficção científica em plena reunião das Trovadoras. 2008, meus caros, é o ano em que começam as incríveis aventuras de uma grande super-heroína. Que esmagaria a She-Ha com Havaianas cor-de-rosa.

Mas quem será essa fantástica mulher? Será um alien? Uma mutante oriunda do universo de X-Men? Uma híbrida, filha do Chapolin Colorado com a Mulher-Gato?

É claro que não. Digo orgulhosamente e brado aos quatro ventos que se trata de uma amiga minha. Uma das mais promissoras das jovens jornalistas, daquelas que, em pleno início de carreira, não fogem da raia da notícia. Ladies and gentlemen, apresento-lhes a incrível, a imbatível, a indefectível Priscila Biancovilli!

Peraê! Ela não é uma super-heroína? Então por que não tem um nome mais... estiloso? Calma, minha gente! Ainda não contei o mais interessante: Priscila, essa moça aparentemente frágil, assume, em suas horas vagas, a identidade de Super Miss Pahia, a mulher que salva o mundo todo dia! Viram? Até rimou!

Evidentemente, eu estava usando uma ironia das mais esfarrapadas ao dizer “horas vagas”. Acontece que Priscila, além de se dedicar à emérita e hercúlea missão de salvar o mundo da corrupção com o uniforme rosa-putão de Super Miss Pahia, ainda dá um duro danado durante o dia na reportagem da Pop Secret, a mais influente publicação sobre comportamento e cultura pop desse ano de 2008. É, sem dúvida, uma repórter de grande futuro, essa menina!

Porém, como já diria o jargão que acabei de inventar, um grande futuro só é construído se tivermos um presente nem tão grande assim (mesmo se somos gênios incompreendidos pela perversidão dessa sociedade invejosa). Não poderia ser diferente com a nossa jovem jornalista-heroína, sempre espezinhada por um editor cri-cri, incapaz de reconhecer tão monumental talento e faro para a notícia.

— Priscila! Tenho uma reportagem pra você. Pro próximo número. Das melhores, pra você não espalhar por aí que eu sou implicante.
— Ah, vai! Me diz que você vai me deixar entrevistar o Wando, por favor!! É o que eu mais quero...
— Nananinanão, dona Priscila. A senhorita vai é fazer uma reportagem numa micareta!! Vai encher quatro páginas falando sobre o comportamento dos freqüentadores, como eles curtem a festa, o clima romântico, como aproveitam música... Tudo isso. E não reclama porque é um dos assuntos do momento.
— Aaaah, não! Eu queria TANTO entrevistar o Wando...
— Deixa isso pra quem tem experiência. Vai logo comprar seu abadá porque eu quero esse texto pronto na minha mesa o mais rápido possível. E sem chorumelas!

Sim, meus amigos, é inacreditável. Ter que ir a uma micareta, justo ela, que detesta axé music! E tudo porque o mala-sem-alça-e-sem-rodinhas do editor-chefe diz que “é um dos assuntos do momento”! Não, não dá pra crer em tamanho despautério! E pior ainda é gastar uma BABA CÓSMICA com um pedaço de pano fluorescente só pra poder entrar na micareta. É... A vida de repórter promissora é árdua...

Resignada com a sua missão de rombo jornalístico – afinal, a graninha no fim do mês sempre ajuda a quem cedo madruga -, Priscila vai comprar o... exótico abadá verde-limão e parte para a tarde de tortur...ops, festa em pleno Riocentro lotado. A tarefa não deve ser de todo difícil, basta se fingir de senhora invisível naquele universo de chicletes e ivetes e ser feliz para sempre, fazendo seu trabalho de observação e documentação minuciosas, imperceptível como uma formiga. Cada um na sua, não?

Se fosse assim fácil, essa história não seria digna de chegar ao conhecimento do nobre leitor. Afinal, é de uma super-heroína com todos os predicados pertinentes ao título que estamos falando.

Pois bem, como toda profissional responsável que se preze, nossa jornalista-heroína parte em busca da reportagem em seu Fusca rosa todo equipado. Mas, ao chegar à micareta, seu sensor de perigo, camuflado em seu enorme brinco com formato de flor, começa a vibrar. E ela se horroriza ao perceber a origem do sinal vibratório: homens e mulheres em pleno clima de carnaval, se beijando ferozmente à primeira puxada de braço; e se largando tão logo abordam ou são abordados por outras pessoas. Simplesmente bizarro, ela pensa. Na verdade, bizarro é pouco! Aterrorizante!

Mas como? De onde diabos há de vir aquela mecanização da fina flor do flerte? Como algo tão bonito quanto a sedução se torna, em poucos segundos, uma mera questão anatômica de aproveitamento desenfreado da libido? É impossível entender. E imperdoável não fazer nada contra. Sim, é seu dever salvar essas pessoas dessa fruição desmedida...

De repente, acende-se a lâmpada na mente de nossa super-heroína. Claro, só pode haver uma responsável por toda a banalização do erotismo imperante naquela festa. Ela mesma, a terrível e escabrosa mutante FRUIÇÃO!!

— Mas eu sabia!! Devia ter desconfiado que isso era obra sua!!
— Han?? — a vilã olha para o lado, confusa em sua farta cabeleira ruiva — Ah, sim. Deixa de ser chata, garota. Você está numa micareta, vai beijar na boca e pára de torrar minha paciência e de cansar a minha beleza!
— Ah, mas você não sabe mesmo com quem está falando, sua ruiva farmacológica de quinta! Por detrás dessa blusa verde ridícula se esconde o seu maior temor!!
— HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH! — Fruição não se contém na gargalhada, que mais parece a de um travesti — Você? Isso só pode ser uma brincadeira! Onde já se viu ter medo de alguém com essa tua voz de criança?? Hahahahahahahahahah!!! “Ah, mas você não sabe com quem está falando!” — ri a vilã, numa imitação perfeita da voz da heroína, há que se reconhecer.

Se há uma coisa que deixa a nossa heroína possessa, irritada, indignada, tresloucada e com sérios instintos assassinos é ter sua voz imitada em tom de escárnio. Acontecendo isso, ainda mais face a face com o inimigo, Priscila passa por uma complexa reação em cadeia, que faz transparecer toda a sua ira e seu desejo de justiça.

— Nunca ouse falar mal da voz de SUPER MISS PAHIA!!!

Ao gritar esse nome, o esdrúxulo abadá verde-limão que cobria o tronco de Priscila é substituído por um reluzente e ofuscante tubo rosa-choque, com dois grandes M e P amarelos estampados à altura do peito. Ao mesmo tempo, uma máscara também cor-de-rosa surge para adornar os olhos, simultaneamente a um par de botas e outro de luvas altas. Tudo rosa-putão, é óbvio. Mais chegay, impossível!

— Não posso acreditar no que vêem meus olhos dourados! Super Miss Pahia!!
— Sim, ela mesma! Que vai te varrer do mapa-mundi e da Via Láctea! Não percebe o mal que está fazendo a essas pessoas?

Fruição, ao ouvir essas palavras, meneia afetadamente a cabeça e, passando as mãos por entre os cabelos ruivos-anilina, sorri.

— Não sei como, Pahia. Você pode parecer poderosa – não tanto como eu, claro – porém eles, essas pessoas que vêm pra micareta para se agarrar e gozar o que a vida tem de melhor, me amam. Sim, eu sou idolatrada por eles! E você é só uma super-heroína metida a Barbie.

— Aah, como assim? Qual é o problema em usar rosa? E o que você tem contra a Barbie? Definitivamente, você é prejudicial a todos, só faz vulgarizar a sedução! E é meu dever acabar contigo! Sinta o poder da minha Chuva de Estrelas Néon!

Uma trovoada de estrelas em néon de todas as cores se dirige rapidamente para o corpo travestil de Fruição, que perde um pouco do equilíbrio. Convencida de sua vitória, Super Miss Pahia diminui a carga até cessar. Porém Fruição se recompõe e ajeita a cabeleira ruiva.

— Hahahahaha! Esse seu chuvisco só serviu pra bagunçar um pouco o meu cabelo! Eu até devia te castigar, porque você acabou com parte da maciez dele. Mas enfim. Eu acho melhor você desistir, hein, filhona??

Super Miss Pahia tenta lutar com todas as suas armas. Tempestade de Purpurina, Névoa do Flower Power, Ilusão Psicodélica... Mas nada adianta contra a mala da Fruição, droga!

— Como eles me adoram, eu posso sair daqui que tudo vai continuar igual. Acho que você, Super Miss Pahia, faria melhor em voltar a se fingir de micareteira, quem sabe seu Príncipe Encantado não te puxa pelo braço? Hahahahaha! Nos vemos algum dia!

E ela some. Assim, sem mais nem menos, deixando nossa querida Super Miss Pahia frustrada. Afinal, se são ineficazes seus esforços de grande justiceira e amante do flerte saudável, ela, ao menos, promete se manter bloqueada aos avanços da maligna Fruição. Jura a si mesma que nunca se deixará sucumbir aos seus luxuriosos desígnios. E, se livrando do magnífico uniforme de Super Miss Pahia, a mulher que salva o mundo todo dia, ela volta a ser Priscila, a jornalista que precisa escrever uma reportagem sobre o comportamento dos micareteiros. Como gostaria de estar na casa do Wando, entrevistando-o.

Como eu já repeti um milhão de vezes (mas não custa nada repetir só mais uma vezinha), Priscila tem um grande futuro no jornalismo. Correspondendo a isso, faz uma grande reportagem, cheia de impressões pertinentes a respeito da festa e, acreditem, sem mostrar qualquer má opinião que teve. O mala-sem-alça-e-sem-rodinnhas do editor-chefe vibra com aquele texto coeso e imparcial, recrutando a repórter para uma nova matéria, dessa vez numa boate indie. E lá vai ela, garbosa em seu Fusca cor-de-rosa.

Chegando à boate, a música lhe agrada muito mais do que os chicletes e as ivetes de outras missões. Claro que está longe de representar, para ela, a magnitude de um Magal, mas é um rock dançável e divertido. Faz uma rápida checagem no ambiente a fim de registrar as primeiras impressões para a reportagem quando o vê.

Um rapaz de pele bem branca e cabelos escuros. Ele é alto e se veste como se tivesse acabado de assistir a uma aula na faculdade de engenharia. E vira o rosto, deixando seus olhos castanho-claros olharem o campo de visão de Priscila.

Sim, eles se aproximam. E uma mulher que mais parece um traveco siliconado de cabelos acaju observa tudo, ao fundo da cena.

Sabem de uma coisa? A terrível e escabrosa Fruição pode até ser legal de vez em quando...




Resposta B


Butterflies And Hurricanes*

*Título de uma música do Muse

Já ouviu falar da borboleta que, com um simples bater de asas, pode desencadear catástrofes de outro lado do mundo? Pois bem.

A tal teoria do caos diz que as borboletas são capazes de provocar furacões. Eu, particularmente, prefiro acreditar que suas asas nos trazem a paz. A felicidade.

Entretanto, furacões existem aos montes e sua fúria intempestiva não combina com a graça e a calma do vôo das borboletas. Um furacão é sempre impaciente, hiperativo, nervoso, desbocado e teimoso. É, portanto, papel da borboleta ensinar ao furacão o equilíbrio, a resiliência, o otimismo e a alegria.

Tu, querida amiga, és uma linda borboleta. E já provocaste um efeito irreversível neste indomável furacão.

1 Comentários:

Blogger Havaianas disse:

Mari, Mari... que coisa, conseguir guardar esse segredo por tanto tempo! Mesmo assim - e agora é minha vez de revelar - já tinha quase certeza de que era eu mesmo a sua sorteada! Você sempre se quebrava nos atos falhos!

O tema Miss Pahia contra a Fruição é sensacional! Ainda mais pelo valor que você agregou ao meu humilde login no Gmail!! Era pra ser Pahia, mas como o chato do sistema pedia no mínimo 6 caracteres, e eu não queria usar nenhum número feioso (é anti-estético pra um e-mail, coisa de fresca!), optei pelo Miss. E agora não há como, ao menos pra mim, dissociar o Miss Pahia da heroína!!

Já o segundo texto, nossa, foi fofíssimo!
Curtinho e impactante (não vou dizer visceral, porque lembra "tripas", ok?), me deixou emocionada, abalada...!!! Sua louca, não faz mais isso com essa manteiga derretida hein?? Humpffffffffff...

4/03/2006 10:51 AM  

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