11.9.05

Resposta da Mônica ao Desafio VII

(Baseado no texto "#4" - Resposta da Liliane ao Desafio V)

Tinha à sua frente um ótimo exemplo do que não fazer. Um exemplo simples, trivial até...prosaico. Essas coisas da vida que acontecem nos lugares mais estranhos. As situações inesperadas eram sempre bem recebidas por ele. Amava as crônicas do dia-a-dia e aquilo seria uma ótima inspiração. Observava tanto aquela cena que conseguia sentir o que seus personagens sentiam, conseguia até mesmo adivinhar os pensamentos daquelas pessoas que nunca vira antes, mas que faziam parte do grande circo. Com direito até a palhaço.
Sua observação se dera desde o início de tudo. E automaticamente percebeu que aquilo já começou errado...Pobre menino! Não conhecia as mulheres nem as artimanhas do amor. Não sabia de nada da vida. Levaria seu primeiro choque com a realidade, sua primeira lição, para casa. E ele nem sabia.
Ele chegou primeiro, a ruivinha depois. Pareciam felizes. Chamavam atenção pela juventude, pela sede de viver. Mas ele parecia inocente. Pensou que eles fossem o tipo de casal em que ela o dominava por completo, fazendo gato e sapato dele. Mais tarde teria certeza disso. Também pareciam se divertir. Mas algo de artificial surgia dela, algo como se ela estivesse em uma peça, atuando todo o tempo. Tinha conhecido alguém assim, uma vez. Furada completa, como sempre. Durou três dias.
Sentam-se de frente para ele. Excelente. Vê o menino mexer nos bolsos, inquieto. Parecia em dúvida sobre alguma coisa. Quando, finalmente, a ruivinha se distrai, ele coloca um objeto prateado no meio das batatas. A princípio parecia uma moeda, mas porque colocaria uma moeda no meio das batatas? Não fazia o menor sentido. Olhou para o lado e percebeu que não era mais o único espectador do casal: o movimento do pobre garoto despertou outros olhares curiosos. A cena estava ficando mais e mais interessante, divertida até. Uma moeda em meio às batatas, para que? Pagamento de uma aposta? Ou pelos serviços prestados? Não, não, eles eram muito jovens pra isso. Mas as crianças de hoje em dia, ele pensou...
Só pôde descobrir o que era exatamente aquela coisa reluzente quando olhou para a expressão (era muito bonita, ele pensou) da ruivinha. E imediatamente ele não acreditou: o babaca tinha escondido uma aliança no meio das batatas fritas! Aquilo era ridículo! Qual homem em sã consciência faria uma coisa dessas? Era um atestado de paixonite aguda, quase como uma declaração de submissão. A vergonha do gênero masculino! Ele quase deu uma gargalhada sonora, mas, por um momento pensou no garoto. E imediatamente sentiu pena. Ele afundou na cadeira enquanto a ruivinha saía a todo vapor pela porta, ainda esbarrando no palhaço em tamanho natural que se encontrava lá, assistindo aquela cena pitoresca de camarote. O rapaz enfiou o anel no bolso e, a essa altura, todos já olhavam para ele, se perguntando silenciosamente de onde ele tinha tirado aquela idéia estapafúrdia. Percebendo os olhares, ele abaixou a cabeça timidamente. Levantou-a em seguida, percebendo uma risada que soava lá no fundo do estabelecimento. Talvez tenha pensado que fosse para ele, mas eram somente meninas brincando com pequenos bonecos vagabundos, brindes da casa. Os olhos vermelhos dele tinham uma fúria incontrolável, assustadora até. Antes parecia tão feliz...e agora tinha vergonha do seu amor.
Cruzou os braços e pensou o que faria numa situação daquelas. Certamente, jamais ocorreria com ele, porque ele não queria. Não era otário a ponto de se deixar envolver por uma mulher e colocar um anel nas suas batatas (até porque deveriam ter maneiras mais interessantes de se perguntar “quer casar comigo?”). Tudo isso era culpa do movimento feminista: as mulheres, depois que começaram a se achar, só sabem pisar nos homens. É...no fundo, a culpa não era do rapaz, era da ruivinha.
Aliás, ela até que era bonita. Merecia um castigo, por sinal, por ter destratado aquele pobre garoto e denegrido a imagem dos homens perante toda uma lanchonete. Quem sabe essa lição poderia vir de uma forma satisfatória para ele? Afinal, o que ganharia observando tamanho estrago? E imediatamente saiu da lanchonete. Será que ainda conseguiria encontrar a ruiva?

1 Comentários:

Blogger Paty disse:

Adoro o humor sarcástico do narrador assistindo a desgraça do garoto de camarote e comendo pipoca, ou melhor, batatas fritas. A narrativa ágil prende o leitor, levando-o em caminhada vertiginosa até o final supreendente.

Aliás, esse homem se mostra tão seguro de si, tão "eu-mando-na-relação"... Eu não duvido nada que ele caia de quatro pela ruivinha e repita a história como farsa, colocando um anel nas batatinhas!

Díalogo fluido e direto com o original em um texto delicioso como um lanche no McDonald's, Moniquinha!

11/15/2005 4:08 AM  

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