Resposta da Patrícia ao Desafio VI
Decisão
Estava farto daquilo tudo. Já havia tentado demais, lutado demais. Seu pensamento fluía tão rapidamente quanto a paisagem ao redor. Ele sabia que estava acima do limite de velocidade, mas sua raiva era maior que esses detalhes mundanos.
Pegou o celular, discou o número há muito conhecido e acionou o viva-voz. Precisava desabafar. Não importava se seria ouvido. O objetivo era descarregar esse ódio. E começou a falar:
Quer saber? Cansei! De tudo isso, de todo esse esforço em vão! De todas as minhas tentativas infrutíferas. Essa foi a última vez, sabe? Todos ficavam me dizendo “É assim mesmo, depois passa”. Mas não passou! E só piorou com o tempo!
Mas eu, tolo, imbecil, insistia – e sempre quebrava a cara. E tentava novamente. Afinal dava certo pra todo mundo, por que não pra mim? Mas você não era justa comigo! Nem um pouco! Nunca foi!
Ingrata, maldita! Não soube reconhecer meus talentos, meu trabalho, meus sentimentos. Nada que eu fazia te agradava! E você sempre parecia rir de mim, com um sarcástico e jocoso desprezo. Podia ouvir o sussurro reverberando em minha mente: “perdedor”.
Pois quem vai perder é você, e todos os que te acompanham! Eu vou mostrar como a coisa funciona. Vou tomar uma atitude! Recuperar o controle, sabe? O quê? Acha que eu não consigo? Que sou incapaz de mudar? Vamos ver!
Seu rosto se contorcia enquanto as palavras saíam com uma voz firme, grave e rouca. O corpo queimava, num estado quase febril de excitação. Afrouxou a gravata. Suas mãos moviam-se nervosamente, uma delas largando o volante em movimentos ágeis para trocar as marchas. Limpou o suor do rosto com a manga da camisa e prosseguiu com seu discurso:
Eu devia ter feito isso há muito tempo! Chega de ouvir conselhos estúpidos de quem não me entende. De quem diz que tudo vai dar certo. Dar certo para quem, cara-pálida? Fácil falar isso com seus empregos perfeitos e famílias felizes. Mas eu sei que eles só agem assim por culpa sua! Influência sua, que seja!
Pois não vai acontecer mais, nunca mais! Você não vai mais me controlar. Quer saber? Adeus!
Não se deu ao trabalho de desligar o telefone. O carro acelerou vigorosamente rumo a uma árvore, atingindo-a em cheio. Foi impossível retirá-lo das ferragens com vida. Encontraram apenas um celular, cujo último número discado tinha sido o de sua própria casa, onde morava sozinho. Entre os médicos da equipe de resgate, há quem jure ter visto um sorriso em seu rosto desfigurado.
Estava farto daquilo tudo. Já havia tentado demais, lutado demais. Seu pensamento fluía tão rapidamente quanto a paisagem ao redor. Ele sabia que estava acima do limite de velocidade, mas sua raiva era maior que esses detalhes mundanos.
Pegou o celular, discou o número há muito conhecido e acionou o viva-voz. Precisava desabafar. Não importava se seria ouvido. O objetivo era descarregar esse ódio. E começou a falar:
Quer saber? Cansei! De tudo isso, de todo esse esforço em vão! De todas as minhas tentativas infrutíferas. Essa foi a última vez, sabe? Todos ficavam me dizendo “É assim mesmo, depois passa”. Mas não passou! E só piorou com o tempo!
Mas eu, tolo, imbecil, insistia – e sempre quebrava a cara. E tentava novamente. Afinal dava certo pra todo mundo, por que não pra mim? Mas você não era justa comigo! Nem um pouco! Nunca foi!
Ingrata, maldita! Não soube reconhecer meus talentos, meu trabalho, meus sentimentos. Nada que eu fazia te agradava! E você sempre parecia rir de mim, com um sarcástico e jocoso desprezo. Podia ouvir o sussurro reverberando em minha mente: “perdedor”.
Pois quem vai perder é você, e todos os que te acompanham! Eu vou mostrar como a coisa funciona. Vou tomar uma atitude! Recuperar o controle, sabe? O quê? Acha que eu não consigo? Que sou incapaz de mudar? Vamos ver!
Seu rosto se contorcia enquanto as palavras saíam com uma voz firme, grave e rouca. O corpo queimava, num estado quase febril de excitação. Afrouxou a gravata. Suas mãos moviam-se nervosamente, uma delas largando o volante em movimentos ágeis para trocar as marchas. Limpou o suor do rosto com a manga da camisa e prosseguiu com seu discurso:
Eu devia ter feito isso há muito tempo! Chega de ouvir conselhos estúpidos de quem não me entende. De quem diz que tudo vai dar certo. Dar certo para quem, cara-pálida? Fácil falar isso com seus empregos perfeitos e famílias felizes. Mas eu sei que eles só agem assim por culpa sua! Influência sua, que seja!
Pois não vai acontecer mais, nunca mais! Você não vai mais me controlar. Quer saber? Adeus!
Não se deu ao trabalho de desligar o telefone. O carro acelerou vigorosamente rumo a uma árvore, atingindo-a em cheio. Foi impossível retirá-lo das ferragens com vida. Encontraram apenas um celular, cujo último número discado tinha sido o de sua própria casa, onde morava sozinho. Entre os médicos da equipe de resgate, há quem jure ter visto um sorriso em seu rosto desfigurado.
Por Paty - 23:34
3 Comentários:
Olá, adorei conhecer o blog de vocês. Muito bom. Estarei indicando nas dicas do meu Varejo Sortido que circula nesta quinta pela rede.
Beijabrações procês.
(Eis que eu volto a comentar. XD)
Seu melhor texto, na minha humilde opinião. Desesperado, alucinado, furioso. E rápido, numa velocidade e brevidade que casam perfeitamente a esse cara q se despediu da vida. Texto foda mesmo, maninha! E que ficou mais foda ainda com sua interpretação na hora da leitura!
Bjs bjs bjs e parabéns!
Sabe, eu demorei a reler os textos desse desafio. Sabe, acima de tudo, por quê? Porque esse seu texto me assusta.
Me dá muito medo pensar que ela pode machucar a gente tanto assim, a ponto de nos fazer voar baixo e feliz de encontro à morte. E me dá medo, sobretudo, porque ela até que pode.
Incrível forma de pensar um homem que se despede dela. Tanto erro que ele não quer nem mais reconhecer a simbiose entre eles. Tanta covardia que ele toma a decisão mais brava que podia tomar. Incrível, mesmo, como ele acha que ela é um outro...
Parabéns irmãzinha.
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