31.7.05

Resposta da Mariana ao Desafio VI

Canudo


AAAAAAAAAAAAAAAAAAhhh! Cerveja! O néctar amargo e gelado das deusas de bíquini! Skol, Antartica, Brahma, Nova Schin... Não importa! Não quero saber se desce redondo, se é boa ou se é nova! Contanto que seja gelada e tenha mulher gostosa no anúncio, qualquer marca vai... E essa aqui tá bem gelada! Nada melhor do que uma geladinha com os amigos no bar de fé pra comemorar o fim do inferno!

Inferno, sim, com certeza. Afinal, pra estar aqui nesse bar, meu último ano de farras e bagunças colegiais foi praticamente assassinado por causa de uma provinha imbecil. E, depois de conseguir uma nota razoável na tal provinha e inflar o ego dos meus pais orgulhosos, ainda tive que agüentar veterano escroto querendo atochar tinta rosa no meu rabo e manchando minha roupa com tudo quanto é cor, já que não eram eles que iam tentar tirar as manchas. Fora ter que superar o ridículo de ficar na rua pedindo dinheiro pra gringo pão-duro...

Tudo isso pra passar cinco anos lendo só calhamaço e aprendendo um monte de leis, a maioria delas totalmente inútil. E pra tomar bomba em algumas matérias. É... Mas acabou. Hoje eu me formei em Direito. Pra nova alegria do meu pai e nova emoção da minha mãe, que chorava mais que um bebê chorão durante a cerimônia de colação, quando eu tive que vestir essa beca de palhaço e pegar o diploma.

Nem preciso dizer que a cerimônia foi aquela merda de praxe, lotada de lágrimas e homenagens bregas, e que eu tava doido pra sair logo de lá e comemorar de verdade. Então, dispensei os velhos, dizendo que ia ficar mais um pouco, e chamei uns parceiros de turma pra tomar umas cervejas no bar ao lado do campus, nosso QG desde os tempos de calouros. E aqui estamos, eu e mais quatro amigos, na melhor de todas as despedidas da universidade: bebendo juntos pela primeira vez como advogados e pela última vez como estudantes, do jeito que sempre fazíamos no fim das aulas, como se fosse um ritual. De fato, está sendo um rito de passagem, já que os tempos de inferno acabaram de acabar. Porra, nem acredito! E desce mais uma geladinha pra cá, Manel!

Enquanto converso com os caras e espero a vigésima primeira cerveja, dou uma olhada no relógio. Duas e vinte e sete da manhã. É, já tá meio tardinho... Tô longe de estar bêbado, mas ainda assim...

Decido, então, que essa vai ser a saideira. Falo isso com os amigos e eles concordam que tá meio tarde e que talvez seja hora de parar de beber e ir pra casa. Afinal, já conversamos tudo, já fizemos planos infalíveis pra ficarmos ricos e pegarmos cada vez mais mulher... A despedida não ia durar pra sempre, o negócio agora é marcar pra todo mundo se encontrar às vezes depois do trabalho. Então, nos encarregamos de tomar a última cerveja do nosso último encontro como universitários e cada um resolve seguir pro seu lado e começar a curtir o início do fim do inferno.

Eu não.

Não sei o que me deu, mas eu tô com vontade de entrar lá na faculdade. Sei que é idiota, eu tava dando graças por ter acabado o inferno, mas foda-se. Vou entrar. Me deu vontade, é o suficiente.

Entro. Realmente segurança não é o forte desse campus, qualquer um consegue entrar às quase três da manhã! Bem, abstraio essa parte. E vou entrando. Puta que o pariu, nunca pensei que esse campus pudesse ser tão frio de madrugada! E tão bonito... Tão diferente da frieza neo-clássica que o sol nos faz ver... E...

Ouço um barulho. Passos ecoando bem perto de mim. Coloco a minha voz mais marrenta e pergunto quem está lá.

— Eu. — e qual não é minha surpresa ao ouvir a voz do cara mais escroto que já conheci na minha vida: Antonio Dantas, o intelectualzinho metido a gostoso do meu período.

— Porra, Dantas, que susto!!!

— Vejo que não sou só eu que tem o costume de vir aqui nas madrugadas... — ele sai das sombras e me deixa ver um olhar bem sarcástico — Aliás, há muito tempo não trocamos uma palavra.

— É, é. Desde o primeiro período. — eu digo, deixando claro que não estava muito afim de trocar muitas palavras com ele.

— Normal. Na verdade não me importo. Muita gente não fala comigo. — e ele ri, com aquela cara irônica que sempre me irritou.

Retribuo com uma cara feia, capaz de irritar qualquer um.

— Vai saber... Mas talvez seja porque você é insuportável com esse seu ar arrogante. Aliás, agora que nos formamos e nunca mais vou ter que te aturar, posso dizer: você é escroto. Nojento. Filho da puta. Te odeio.

Me mostrando um sorriso, ele me pergunta:

— Você está bêbado, Bruno?

— Porra, se você me viu bêbado ultimamente, deve ter tomado LSD... Não vou ficar bêbado com cerveja...

— Comemorando no bar do Manel...

Não respondo e olho pra uma pilastra da parede oposta. Não foi uma boa idéia ter entrado na faculdade pra ficar aturando o Antonio Dantas, ainda mais no dia em que me libertei do inferno. Só pode ser praga desse lugar...

— Antes de você me ouvir chegar eu estava pensando... — ele interrompe meu devaneio — Não vou ter mais tempo de vir aqui de madrugada por causa do trabalho. Uma pena, já que esse campus é tão bonito durante a madrugada. Uma boa visão pra insônia...

— É, é é... — eu digo sem pensar no que estou dizendo. E vejo um olhar ainda mais enigmático no outro.

— Sério?? Aliás, nunca imaginei te encontrar aqui em um dos meus passeios noturnos. Realmente inusitado... O que houve, Bruno??? Já está com saudades da faculdade???

Porra, isso foi demais! Na verdade, nem sei o que estou fazendo aqui ainda, pra ficar ouvindo tanta merda! Me levanto rápido, decidido a ir pra casa e me despedir de uma vez por todas desse lugar. Só que, na boa, isso já é perseguição!!!! O Antonio Dantas se levanta também e me acompanha.

— Também me vou. A propósito, Bruno, você foi o único que falou a verdade. Bem, nos vemos em alguma audiência.

E ele vai, na direção oposta. Eu vou me encaminhando pra minha saída. Mas, em algum momento eu fico louco o suficiente pra olhar para trás e dizer algo.

— Até lá.

O inferno fica para trás.

1 Comentários:

Blogger Paty disse:

É um conto despretensioso, relaxado na aparência, mas que na essência mostra uma mudança de fase na vida de dois rapazes. A consciência da vida adulta, o abandono da época de farras da faculdade.

E o mais interessante é que depois de ler dá uma vontade de conhecer os personagens, fazer exatamante o que fiz contigo no MSN: especular sobre se eu seria amiga deles ou não, se ficaria com algum deles, etc. Esse é o mérito: fazer personagens tão críveis.

Ah, e gosto muito dos diálogos, com o estilo escrachado e cheio de palavrões do Bruno contrastando com a fala em português correto do Antônios Dantas.

Aliás, o Dantas meio que rouba a cena: parecendo o chato da faculdade a princípio, se revela sensível a ponto de apreciar caminhadas à luz da lua.

O final abrupto porém preciso deixa um gosto de quero mais, uma vontade de saber os motivos dessa rivalidade Bruno X Antônio Dantas e sobre a vida nessa faculdade de Direito. Não quer fazer uma continuação? :D

8/22/2005 12:55 AM  

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