Resposta da Liliane ao Desafio VIII
Alcova
- Entra.
Recebo a resposta antes mesmo de bater. Ele sabe que estou aqui, pode farejar minha ansiedade. Ainda vacilo, dedos experimentando a maçaneta, quando a voz me busca outra vez.
- A porta está aberta.
E eu sei disso, mas o problema não reside na tranca. Respiro fundo e passo para dentro do quarto, fechando a porta atrás de mim com o máximo de cuidado. Não que o silêncio seja necessário; apenas tento me adaptar à situação, e para isso preciso de toda a calma possível. Recosto-me na superfície de madeira, talvez tentando absorver algo daquela firmeza imóvel.
Da cama, ele me observa. Tronco ligeiramente erguido graças ao apoio dos cotovelos, cabeça tombando displicentemente para trás - e o lençol largado sobre suas pernas faz da nudez somente uma sugestão. O aspecto casual de seu semblante, ao mesmo tempo distante e íntimo, deixa claro que ele não tem pressa alguma, mas tampouco paciência para aturar as inseguranças de uma garotinha. Afinal, é assim que ele me vê, certamente.
Não faço menção de me mover, e, em vista disso, ele espreguiça, para sentar-se logo depois. Seu olhar vai de mim à garrafa de vinho sobre a mesinha ao canto, e então retorna. Tudo que faço é menear a cabeça, recusando a oferta muda. Não, obrigada, o senhor já me embriaga o bastante. Ao menos a inércia é quebrada e eu tomo a iniciativa de me aproximar. E ele zomba do meu medo, sorrindo-me sem qualquer moral enquanto afaga o queixo coberto por um vestígio de barba.
Percebo que meus pés quase encontram os dele, o que me faz interromper a trajetória. Mas, por ora, não há lugar para mim no leito, sinto que não. Encaramo-nos, e ele lê a dúvida estampada em minha face, ainda que não se preocupe nem um pouco. Contenta-se em deslizar os dedos pelos cabelos mal-aparados, dirigindo-se a mim com a crueza que se delega a um naco de carne.
- Você não pretende ficar aí pra sempre, certo?
Não há por que perder tempo floreios românticos se já me trouxe até aqui, não é? Tudo que precisa fazer é erguer as sobrancelhas, como se todo esse cenário fosse mais do que óbvio. E eu, incapaz de oferecer resistência, me dispo; mais que livrar-me dos trajes, eu me exponho por completo diante dele. Meu corpo, minha mente e minha alma são lidos por grandes olhos que, por um único instante, ganham uma expressividade assustadora, quase violenta. Tenho medo, vergonha, mas isso não parece ser o bastante nem para me parar, nem para me impelir.
Como se soubesse o que penso - e aposto que sabe, maldito jogador -, ele me toca. Mãos firmes correm pela minha cintura, braços longos me envolvem. Hesito, sei que isso não é um privilégio meu. Quantas outras mais ele já não derrotou assim? Quantas presas já não foram abatidas da mesma forma?
E por que isso não parece importar quando eu sinto sua respiração sobre a minha pele?
Tento, com empenho, trazer de volta a razão que perdi nem lembro onde, mas de nada adianta. O sorriso largo e dissimulado que rasga o rosto colado ao meu ventre consegue dar cabo de toda a minha força de vontade.
Enveredei-me pelo caminho errado; agora só me resta seguir em frente.
- Entra.
Recebo a resposta antes mesmo de bater. Ele sabe que estou aqui, pode farejar minha ansiedade. Ainda vacilo, dedos experimentando a maçaneta, quando a voz me busca outra vez.
- A porta está aberta.
E eu sei disso, mas o problema não reside na tranca. Respiro fundo e passo para dentro do quarto, fechando a porta atrás de mim com o máximo de cuidado. Não que o silêncio seja necessário; apenas tento me adaptar à situação, e para isso preciso de toda a calma possível. Recosto-me na superfície de madeira, talvez tentando absorver algo daquela firmeza imóvel.
Da cama, ele me observa. Tronco ligeiramente erguido graças ao apoio dos cotovelos, cabeça tombando displicentemente para trás - e o lençol largado sobre suas pernas faz da nudez somente uma sugestão. O aspecto casual de seu semblante, ao mesmo tempo distante e íntimo, deixa claro que ele não tem pressa alguma, mas tampouco paciência para aturar as inseguranças de uma garotinha. Afinal, é assim que ele me vê, certamente.
Não faço menção de me mover, e, em vista disso, ele espreguiça, para sentar-se logo depois. Seu olhar vai de mim à garrafa de vinho sobre a mesinha ao canto, e então retorna. Tudo que faço é menear a cabeça, recusando a oferta muda. Não, obrigada, o senhor já me embriaga o bastante. Ao menos a inércia é quebrada e eu tomo a iniciativa de me aproximar. E ele zomba do meu medo, sorrindo-me sem qualquer moral enquanto afaga o queixo coberto por um vestígio de barba.
Percebo que meus pés quase encontram os dele, o que me faz interromper a trajetória. Mas, por ora, não há lugar para mim no leito, sinto que não. Encaramo-nos, e ele lê a dúvida estampada em minha face, ainda que não se preocupe nem um pouco. Contenta-se em deslizar os dedos pelos cabelos mal-aparados, dirigindo-se a mim com a crueza que se delega a um naco de carne.
- Você não pretende ficar aí pra sempre, certo?
Não há por que perder tempo floreios românticos se já me trouxe até aqui, não é? Tudo que precisa fazer é erguer as sobrancelhas, como se todo esse cenário fosse mais do que óbvio. E eu, incapaz de oferecer resistência, me dispo; mais que livrar-me dos trajes, eu me exponho por completo diante dele. Meu corpo, minha mente e minha alma são lidos por grandes olhos que, por um único instante, ganham uma expressividade assustadora, quase violenta. Tenho medo, vergonha, mas isso não parece ser o bastante nem para me parar, nem para me impelir.
Como se soubesse o que penso - e aposto que sabe, maldito jogador -, ele me toca. Mãos firmes correm pela minha cintura, braços longos me envolvem. Hesito, sei que isso não é um privilégio meu. Quantas outras mais ele já não derrotou assim? Quantas presas já não foram abatidas da mesma forma?
E por que isso não parece importar quando eu sinto sua respiração sobre a minha pele?
Tento, com empenho, trazer de volta a razão que perdi nem lembro onde, mas de nada adianta. O sorriso largo e dissimulado que rasga o rosto colado ao meu ventre consegue dar cabo de toda a minha força de vontade.
Enveredei-me pelo caminho errado; agora só me resta seguir em frente.
5 Comentários:
Não me estranha nem um pouco que vcê tenha feito seu texto sobre Chapeuzinho Vermelho. Parando pra pensar bem, você sempre esteve fascinada pelas inúmeras versões e/ou significados subliminares desse conto. Você sempre o cita!
E só pra variar, um texto daqueles que dá a exata noção de cena. Dá uma sensação gostosa de estar espiando sem ser visto, uma emoçãozinha voyeur... E vamos combinar, se esse teu lobo tesudo estivesse no Big Brother, ele ganhava! XD
Texto delicioso. Não canso de me lambuzar dele!
O q é o lobo mau? Realmente, ele levou a chapeuzinho pro mal caminho...
O q me impressionou é q vc conseguiu tratá-lo meio de forma animalesca: "o sorriso que rasga", quantas vítimas já não abateu", "pode farejar minha ansiedade", "grandes olhos", "braços enormes"... Coitada de chapeuzinho...teve q encarar uma dessas...rsrsrsrsrsrsr
Bjinhos
Ah, o lobo tesudo... :D
Adoro a sensualidade latente, o clima de perigo e sedução pairando, urgente, nervoso. É um jogo, um baile, uma corte diferente. A insegurança decidida dela, o poder mudo exercido por ele. Céus, isso tudo é incrivelmente sexy.
Gosto de como os gestos dizem tudo, quase não há diálogo. E nem precisa, pois são os corpos que dialogam em sua linguagem universal.
A razão? Está lá em algum lugar, ela sabe que o caminho era errado. Mas como resistir diante dos sorrisos, da barba por fazer? Da certeza que emana das atitudes dele?
Ah, sim: há ainda as brincadeiras com o original: a menção aos grandes olhos, o jeito animalesco, a barba emulando os pêlos do corpo.
Um primor, maninha. Desde já um dos meus favoritos! :)
P.S: E esse lobo não atrai apenas garotinhas inocentes de capuz vermelho... :D
Só uma coisa a dizer: lobo tesuuuuuudo...
...
É, eu nunca imaginaria Chapeuzinho Vermelho dessa forma... (Ser a caçula inocente é foda... XD)
E foda (com tds os trocadilhos possíveis) está o seu txt! Como a Laura disse, vc faz o leitor se sentir voyeur de toda a cena, tamanha a perfeição das descrições. E o link com o original tá feito pela animalidade nas atitudes do rapaz e pelo último parágrafo do texto; curto, simples e direto XD
(Caralho... q lobo é esse??? XD~~~~)
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