2.4.06

Resposta da Mônica ao Desafio IX

Quereis conhecê-la? Louvo sua decisão, caro leitor. É uma honra para mim, pobre plebéia que sou, apresentar dama tão digna de sua nobreza. Mas não. Não vou começar com “Era uma vez” ou qualquer coisa parecida, apesar de ser uma história de princesas, alguns príncipes e uma maldição. Também não citarei nomes. Caberá a ti, leitor, compreender de quem se fala.
Há alguns anos atrás, nasceu uma menina. Filha de Reis, estava destinada, juntamente com seus irmãos e irmãs, a governar todo um vasto reino, que mais tarde seria dividido pelo rei, seu pai, para evitar brigas internas e intrigas na sucessão real. Em testamento, o grande governante repartiu seus domínios em sete reinos menores, cada um destinado a um filho, reinos os quais deveriam ser administrados de acordo com as características pessoais de cada herdeiro.
As crianças cresceram, e cada um, ao chegar à idade de 18 anos, assumiu seu território. À dama a qual apresento coube um reino marcado pela alegria e felicidade de seus habitantes. Todos se amavam e respeitavam, e a harmonia era geral. Havia crimes de vez em quando, em sua grande parte passionais, mas a jovem rainha fazia questão de manter tais malfeitores sob sua vigilância pessoal, e somente os libertava quando sentia que estavam prontos para viver em harmonia novamente.
Quando não se ocupava dos negócios do reino, a governante voltava-se para as artes. Seus quadros e desenhos ocupavam galerias inteiras do Palácio Real. Essa paixão, ela a compartilhava com uma de suas irmãs, que constantemente enviava gravuras de sua autoria. Muitas vezes, elas eram trazidas pessoalmente, já que tratavam-se de reinos vizinhos e que mantinham um relacionamento bastante estreito entre si. Além da pintura, as letras também foram grandes companheiras de nossa rainha, que oferecia saraus famosos em todas as redondezas, nos quais sempre estavam presentes suas irmãs mais próximas.
Peço-lhe permissão, caro leitor, para me deter nos saraus de Sua Majestade. As festas eram muito comuns no reino, e os saraus da rainha não perdia em nada para elas. A jovem convidava, além de suas rainhas-irmãs, muitos cortesãos e plebeus. Até eu, camponesa, já fui convidada para tais divertimentos. Todos podiam declamar poemas e dançar ao som da flauta doce que a rainha tão bem tocava. Entre uma dança e outra, o flerte era inevitável. Muitas paixões nasceram desses serões reais, e mereciam atenção especial da rainha, especialmente quando encontravam alguma barreira para a sua efetivação. Compadecida dos sofrimentos dos apaixonados, incentivava-os, ajudando-os a manter seus idílios amorosos através de seu consentimento pessoal. Esses saraus, sempre tão marcados pela alegria, eram muito famosos em todos os reinos da região, e muitas vezes, habitantes de outros domínios vinham fazer parte dos festejos, desejosos que eram de alegria em suas vidas. As rainhas-irmãs também ofereciam festas desse tipo, mas, como dito anteriormente, cada uma delas era marcada por um estilo particular. Uma adorava festas à fantasia (e quanto mais loucas, melhor!), outras gostavam mais de festejos góticos. Mas, em todos os bailes, a animação era latente.
Entretanto, apesar de toda a alegria que predominava sobre o reino, a inveja se fez presente. O irmão mais velho da rainha, ciumento do amor que imperava em seus domínios, queria tomar-lhe as terras. Para tanto, lhe pregou uma peça, lançando-lhe uma maldição: escreveu nos livros que regiam seu reino que a jovem rainha somente se apaixonaria por príncipes de reinos muito, muito distantes. Na primeira vez que tal blasfêmia se fez sentir, a rainha pediu para o rei, seu irmão, que lhe fosse complacente. A fim de diminuir a solidão sentida por sua irmã, ele lhe enviou um gato, que logo se tornou seu fiel companheiro e o qual ela deu o nome de seu reino. Enviou também como presente um quadro com o retrato da jovem, pintado por famoso pintor italiano pré-rafaelista chamado Rosseti, quadro esse que leva como título o seu nome. Mas depois, por ironia ou crueldade de seu irmão, foi escrito que outros príncipes apareceriam – o que realmente aconteceu - e a rainha finalmente rogou para que ele queimasse o livro no qual escreveu seu infortúnio. E ainda hoje ela espera uma resposta dele.
Espero, caro leitor, que tenha apresentado com clareza a dama que desejas conhecer. Todos os súditos de seu reino prezam-na enormemente, e muitos habitantes de vilarejos distantes desejam sentir a alegria de seus domínios. Oh, não conseguiu compreender de quem se fala? Perdoe-me, leitor, mas creio que, na verdade, desejas um nome. Não se contenta com pouco: anseias pela exatidão que lhe neguei ao principiar minha narrativa. Pois bem! Muito prazer, eis Lady Lilith.

1 Comentários:

Blogger L. disse:

E não adianta, eu sequer consigo decidir por onde começar a comentar.

Pasma, Moniquinha. Eu fiquei pasma com seu texto e a forma como você conseguiu se apropriar de tantos e tantos pequenos detalhes pra construí-lo. Acho que a imagem que me vem é de uma daquelas colchas de retalhos, feita com uma precisão absurda. (Mas pode não ser uma idéia boa, também. Sabe como é o sono.) E cada fragmento que você usou é tão pessoal que aposto que muitos detalhes passam em branco pra quem não transita pelo nosso mundinho de injokes.

... Isso sem falar na questão conto-de-fadas. Ah, você sabe bem da minha paixão por eles e não teve piedade, não é?

Você me deixou absolutamente feliz com esse presente, minha linda. Sem palavras, mas explodindo de orgulho.

Muito, muito obrigada!

4/03/2006 11:04 PM  

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