24.8.06

Resposta da Mariana ao Desafio XIII

Tipo de Texto: Reportagem

Tema: Osama Bin Laden é capturado pela polícia americana. O que será do mundo agora?


Observações antes da leitura: Este texto se trata única e simplesmente de uma obra de ficção, e não é minha intenção prever o futuro ou provocar pânico, tampouco ser condenada por heresia pela Justiça americana. Qualquer juízo de valor ou expressão mais pesada na introdução do texto terá sido pura ironia.


ENCURRALADO

Osama Bin Laden é capturado pela polícia americana. O que será do mundo agora?


Little Rock, Arkansas. A cidade que, em 1957, foi palco do escândalo racista que chocou o mundo volta a ganhar as páginas da História. Ontem, 16 de agosto de 2009, domingo ensolarado de verão, um homem foi preso pela CIA ao comprar pilhas numa papelaria, em operação que paralisou as ruas da cidade por dez horas. O homem, de cabeça raspada, sem barba e usando moletom com tênis Adidas, era ninguém menos que Osama Bin Laden, o maior terrorista da atualidade. Inimigo mortal do Ocidente e erva daninha que deve ser exterminada pelo poder conferido por direito divino aos Estados Unidos.

Finalmente o pegaram. Agora, o artífice de tragédias como o 11 de Setembro e os atentados às embaixadas americanas na África será julgado e responderá por seus atos. Mas o que será do mundo de hoje em diante, visto que o terrorismo perdeu o seu "führer" para os "infiéis"? Antes de responder às muitas questões que vêm surgindo desde ontem, é preciso deixar claro que Osama Bin Laden, personificação da violência em nome de um Alá envergonhado e profanado, é criação dos mesmos Estados Unidos que hoje comemoram sua prisão.

Voltemos à Guerra Fria para entender este paradoxo. O fato é que, durante a invasão soviética ao Afeganistão, em 1979, a CIA canalizava auxílio aos guerrilheiros árabes que resistiam à força da ex-potência socialista. Entre os rebeldes, estava um jovem milionário saudita extremamente religioso, que lutava como voluntário e contribuía com dinheiro para a causa: Osama Bin Laden. Fundamental na derrota dos invasores soviéticos ateus - e, portanto, mais um triunfo americano sobre a rival vermelha -, em 1989, Bin Laden fornecia cada vez mais apoio logístico e financeiro a rebeldes muçulmanos, fundando assim a organização Al-Qaeda, dedicada ao recrutamento e treinamento de jovens árabes dispostos a meios extremos pela erradicação dos "infiéis" das terras sagradas do Islã.

Nesse hiato de 20 anos entre a retirada das tropas da União Soviética do território afegão e a captura de Osama, vários atentados a alvos civis e três grandes conflitos encabeçados pelos Estados Unidos (Golfo, Afeganistão e Iraque) pontuaram a "guerra contra o terrorismo" ou "Jihad" (guerra santa), de acordo com o ponto de vista. É notável, porém, com o fim da Guerra Fria e da ameaça comunista, a mudança de relações entre Al-Qaeda e Exército americano. Tal inversão - provocada, entre outros fatores, pela retirada rápida e "covarde", segundo Bin Laden, das tropas americanas da Somália após um atentado de guerrilheiros urbanos em 1993 - ditou irremediavelmente os rumos do cenário internacional nesse começo de século XXI até ontem, quando o terrorista mais procurado do mundo foi capturado num ato prosaico, oposto à badalação que cerca o seu nome, em território inimigo. No mundo todo, bilhões de pessoas se perguntam o que acontecerá agora.

Estaríamos livres da "ameaça terrorista"? Ou condenados à ditadura imperialista americana, ainda mais fortalecida pela prisão de uma das suas maiores pedras no sapato? As respostas são múltiplas, porém a maioria tende a seguir duas tendências. de um lado, há os pessimistas, que crêem ou na consolidação do absolutismo ianque, ou no aumento generalizado de atentados terroristas, provocados pela revolta das variadas organizações com a perda de uma de suas maiores referências. De outro, há os céticos, que dizem ser o fundamentalismo religioso e a "guerra contra o terrorismo" nada mais do que pretextos para interesses econômicos.

O cientista político francês Jean-Louis Moreau, professor da Universidade de Sorbonne, disse em entrevista à CNN que espera uma profusão de ataques a alvos civis e militares após a prisão do líder da Al-Qaeda:

- Bin Laden, ao contrário do que muitos pensam, não era o único comandante da Al-Qaeda. Ele era sim, de longe, quem mais aparecia na mídia em nome da organização, o que criava uma idéia equivocada de liderança centralizada; mas era também a referência que instigava os jovens recrutas a lutar. Por ser a imagem, a personificação do terrorismo, sua prisão certamente trará revolta aos seus "soldados" que, uma vez imbuídos de seu discurso fundamentalista, farão de tudo para seguir o seu exemplo - acredita Moreau. - Não posso prever o futuro, mas a tendência é de muitos ataques para pressionar o governo americano.

Já para Jens Müller, historiador alemão e professor da Universidade de Cambridge, a questão é mais complexa. Em entrevista à BBC World, Müller mostrou ceticismo em relação ao terrorismo e às guerras justificadas por ele:

- A indústria bélica necessita de guerras para não ir à falência. E ela é imparcial, nunca escolhe um aliado, exatamente porque precisa lucrar vendendo armas. Nesse contexto, temos que tanto o terrorismo quanto as guerras contra ele são meramente movidos por interesses econômicos, seja da indústria de armamentos, do petróleo ou até da mídia - afirmou Müller. - O fundamentalismo religioso islâmico nada mais é, portanto, do que instrumento de manipulação das massas em prol de uma causa político-econômica, como foi a superioridade da raça ariana para a Segunda Guerra Mundial. Assim como a "missão" americana em vencer o terrorismo é um subterfúgio para guerras que destroem o Oriente Médio, mas que aquecem o desenvolvimento e o comércio de armas. Não me surpreenderia se soubesse que Bin Laden e Bush participam de reuniões semanais sobre o andamento dos negócios da indústria bélica.

Não se sabe qual dos dois argumentos é o mais provável ou se algum deles pode vir a se concretizar. Entretanto, temos uma certeza: a prisão de Bin Laden é mais um acontecimento a pontuar a era de tensão em que o planeta se encontra. Se antes existia um mundo bolchevique e outro ianque a ponto de se explodirem a qualquer momento, hoje existe o imperialismo de um só gigante contra o terrorismo de vários pequenos. Os inimigos mudaram, as ideologias morreram e se assumiram como fundamentalistas, de ambos os lados. Porém, o medo, esse sim, não muda de nome.

6 Comentários:

Blogger Aline Brandão disse:

(Ela vai querer me matar por isso... XD)

Sabe o que tá faltando na tua resposta, Mari? UM EDITOR. Texto jornalístico precisa de alguém pra reclamar dele e sair cortando tudo que a gente teve o maior trabalho pra fazer. XD

Fora isso, é o que eu já te falei - o texto tá bom, mas a gente te conhece muito bem e sabe que você podia fazer mais. Você mesma sabe disso. Ok, nem sempre o tema dá tesão, e nem sempre (raramente, na verdade) dá tempo de fazer todas as loucuras que vêm na nossa cabeça, mas... enfim.

E ó, tá de parabéns pela pesquisa. Não quer ser minha apuradora oficial de agora em diante não? ;D

8/24/2006 5:08 PM  
Blogger Paty disse:

Boa, votem na Mari para apuradora free-lancer! :D Destaco a verossimilhança das "fontes", com declarações coerentes e embasadas. E adoro a teoria conspiratória.

No mais, assino embaixo do que a Aline disse. Só faltou um editor pra pautar e cortar e uma boa dose de tesão pra levantar (com trocadilho) o texto.

E nada me tira da cabeça que o Osama foi comprar pilhas pro IPod porque não podia ficar sem ouvir o disco novo da Britney. :D

8/24/2006 11:19 PM  
Anonymous Anônimo disse:

Mari, não li o texto todo, mas já vi que está bom. O que as meninas devem estar falando cá em cima é que vc fez mais um artigo, e não uma reportagem propriamente dita, pra dar na capa do Extra no dia seguinte. Pq essa matéria do Extra não teria a análise que você fez, seria completamente diferente, mas não é por isso que seu texto é ruim.

Ele está mais pra Folha de São Paulo, quando esta, aos domingos, publica artigos traduzidos do New York Times... viu, filha?? Tá chic, bem!

P.S.: Cara Aline B. Conheço Mariana há 9 anos (ISSO TUDO, MEU DEUS!!!) e yo te aseguro que ela sempre foi assim "meu-texto-é-horrível-não-faço-nada-de-bom"... Ela falava disso das provas que ela fazia, tipo "errei-tudo-tirei-zero-foi-horrível", e no fim a nota vinha, e era 9,5m quando não 10. Isso vem de loooonge...

8/25/2006 10:26 AM  
Blogger Paty disse:

Ahá! Então o "meu-texto-tá-uma-merda" vem desde pirralha! Por que isso não me surpreende? :D

Valeu, Natália, pela revelação esclarecedora!

8/25/2006 9:39 PM  
Anonymous Anônimo disse:

(Sim, Line, eu quero te matar. XD)

Pra quem não me conhece:

Daqui a um ano, mais precisamente em dezembro de 2007, serei oficialmente uma PUBLICITÁRIA (pq, por enqto, sou publicitária wannabe, ainda não me formei). Portanto, me perdoem por ter fugido ao estilo, deixemos isso pras jornalistas.

Pra quem me conhece (em especial pras meninas acima):

Não é segredo que reportagem era o último estilo que eu queria sortear. Até poesia e cordel, como autêntica filha de pai cearense, eu encarava.

Outra: nunca vi reportagem estritamente objetiva transparecer tesão. Tá certo q essa minha é um tanto frígida, mas me inspirei nas da Superinteressante, que são mais legaizinhas e têm um toque opinativo. Mas, volto a dizer: se tivesse seguido estritamente o estilo REPORTAGEM, o texto seria mais assexuado do que a Sandy. Sinuca de bico a minha, não?

Pra Paty: Se eu aloprasse e falasse do IPod do Osama e dissesse q ele é fã de Britney, estaria fugindo, pelo menos a meu ver, do tema principal da reportagem, "o que será do mundo agora?". Pouco importa a serventia das pilhas ou qqr outra coisa mais engraçada quando isso é questionado. E também creio que essa pergunta tire um pouco de objetividade do texto.

Enfim, é isso.

E eu pesquisei bastante, sim. Passei meu último dia de internet banda larga em casa procurando informações mais completas sobre o Bin Laden... Isso pq omiti algumas bem importantes, hehehehe

8/29/2006 7:42 PM  
Blogger Paty disse:

Taí, Mari, tô gostando de ver vc defendendo o seu texto. Mesmo! Até porque vc foi a primeira a dizer que não tinha gostado dele. :)

E claro que o lance das pilhas do IPod seria só o desencadeador, né? O mundo ia ficar chocado com a revelação de que o Osama era fã do american way of life, os seus seguidores ficariam revoltados, e por aí vai. Essa seria uma possibilidade. :)

Mas isso não quer dizer que o seu texto não tenha respondido o desafio, por favor! :)

9/03/2006 1:24 AM  

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