22.6.06

Resposta da Mônica ao Desafio XII

Reflexão

“I could easily forgive his pride, if he had not mortified mine”*
Jane Austen (Pride and Prejudice)


Sim, isso é fraqueza, e ela não será mais permitida. Bastou experimentar todo esse mundo de sensações uma única vez para saber que nada disso é para mim. Tudo isso nos deixa fracos, nos deixa incautos, passíveis de serem enganados, ludibriados pelo sentimento mais nobre e, ao mesmo tempo, cruel que existe no mundo. Uma única vez para nunca mais.

Talvez toda essa minha descrença te faça pensar que sou uma pessimista. E você vai dizer também que um dia eu posso me apaixonar novamente, e esquecer toda a angústia, todo o aperto no coração que nos faz suspirar para poder viver. Pode dizer tudo isso: a sua opinião e nada, para mim, são a mesma coisa. Mas a verdade é que agora, me vendo diante desse espelho, percebo que há uma nova imagem, nunca antes observada. Não há mais tristeza, nem lágrimas, há somente a superação, a idéia de que eu sempre fui maior do que toda a fragilidade que possa me atingir. Eu sou forte, eu sei a diferença entre o certo e o errado, e o certo agora é não me deixar sucumbir por um sentimento tão débil. Nada de fraqueza, nem choro. O motivo para isso é indigno tanto de um, quanto do outro.

Minha imagem refletida nessa superfície espelhada apoia tudo o que eu digo, toda a minha força e determinação. Solto os cabelos, e eles caem volumosos pelos meus ombros, provocando um meio-sorriso de satisfação em minha boca. Sim, eu posso despertar sentimentos avassaladores em um reles mortal. Mas os olhos...fecho-os, e percebo que voltar a ser o que eu era antes pode ser mais difícil do que supunha. Algo dentro de mim se revolta contra isso: eu me recuso, recuso a sofrer por amor. Amor ingrato, amor traiçoeiro, amor que me fez cair do alto do meu pedestal e me machucar, me ferir de morte. Pois é exatamente isso: estou caída, prostrada, como nunca pensei que pudesse estar. E essa situação me enoja, me faz sentir repulsa de mim mesma. Afinal, nenhum sofrimento pode ser maior do que eu.

Talvez você pense que estou um tanto irada. Não. Estou simplesmente calma e serena, somente preciso expulsar de mim tudo aquilo que me deixa vulnerável. Abomino a vulnerabilidade e todas as suas formas: o amor é uma delas. Amor, paixão, raiva, enfim, tudo isso nos torna sensíveis. Eu nunca fui sensível, então por que me deixei abater dessa forma? Essa pergunta me intriga um pouco mais do que deveria. Sempre achei que os sentimentos são destinados aos tolos, aos que precisam amar o outro porque lhes falta algo. As pessoas altivas, completas, não precisam disso, e eu me incluo nessa categoria. Sempre fui muito feliz sem o amor, porque, na verdade, eu sempre me contentei comigo mesma. Mas, por um breve momento, ele veio e fez questão de abalar todas as minhas convicções.

Voltam à minha mente o céu e o inferno. Ele soube fazer com que eu me apaixonasse, ah sim, ele soube. Mas eu não o culpo por isso, de forma alguma: talvez ele acreditasse na mesma ilusão que eu. Soube me envolver de tal forma que não me deixou outra alternativa senão me deixar levar por esse sentimento. Mas quando eu comecei a pensar que eu estava errada em todas as minhas idéias, quando todos os meus sonhos estavam em construção, os dele já tinham sido demolidos. Ele pôde despertar sozinho, com suas próprias reflexões. Eu não. E ele precisou me chamar de volta à realidade.

E o que é a realidade? A realidade sou eu, tendo como única companhia essa imagem à minha frente, com o cérebro andando em ruas estreitas e sombrias, pensando no sentimento que eu, por um momento, achei que fosse amor, e que foi desprezado. Humilhado. Ajeito os cabelos, e estendo minhas mãos em direção ao delineador. Tudo o que ele queria era me fazer desacreditar em mim mesma, como se fosse homem suficiente para isso! Pergunto-me se ele de alguma forma pensa que eu me rastejarei aos seus pés, em uma cena patética de drama mexicano de péssima categoria. Ora, ora, se é assim, quanta ingenuidade da parte dele! Confesso até que já me passou pela cabeça me utilizar dessa aparente inocência para fazê-lo se arrepender. Mas não. Não ocuparei meu tempo arquitetando uma forma de me divertir com os sentimentos dele, como ele fez comigo por mero esporte. O espelho, fiel companheiro que ouve todos esses pensamentos, confirma que eu não preciso disso para ter minha satisfação pessoal: a felicidade reside em mim, e em nenhum outro lugar. Afinal, não creio que essas coisas tão pequenas mereçam minha atenção...

Pronto, a maquiagem está escondendo qualquer possível rastro de tristeza de forma brilhante. O que deixo transparecer é a serenidade misturada com desprezo. Agora sim, posso deixar que olhem nos meus olhos e que vejam o que eu realmente sou: uma pessoa auto-suficiente. O cabelo está excelente, do jeito que eu quero. Mas é inevitável pensar que algo em mim o desagradou. Afinal, ele me perseguia todos os dias, com uma rosa vermelha sempre pronta para ser entregue. Dizia que eu era importante, que nunca tinha sentido algo tão especial. Lutou por mim, lutou para destruir todas as minhas defesas, e sua luta me impressionou, me conquistou. Mas bastou um dia para tudo ruir por terra. O encanto que eu exercia acabou no momento exato em que ele conseguiu o que queria. E fim. E ele era somente um desconhecido! Como pude?

Tudo isso só fez confirmar que a minha eterna falta de fá no amor não é vã. A partir do momento em que ele me desprezou, todo o amor que eu poderia sentir ficou em segundo plano, cimentado, duro, no fundo da minha alma. Não creio na paixão, nos relacionamentos humanos, nem na minha própria capacidade afetiva. Creio somente em mim mesma. A única coisa que merece minha atenção é essa imagem refletida que está aqui na minha frente. Amarga? Talvez eu seja. Sei que agora novos dias virão, dias em que o meu auto-controle, inigualável, voltará ao normal, assim como a minha racionalidade ficará na mais perfeita ordem novamente. Sem mais ilusões.

O batom ficou realmente bom. Mordo o lábio e sorrio: imbecis aqueles que acreditam em toda essa baboseira sentimental. A imagem do espelho está realmente interessante. Resultado plenamente satisfatório. Sinto como se fosse capaz de conquistar o mais insensível dos homens. A partir de agora, a vida continua normalmente. Somente com mais uma lição aprendida - nota mental: não me deixar envolver por tolos ou me transformar em um deles. Mas, no meu íntimo, eu sei que o orgulho, uma vez ferido, impedirá qualquer outra queda que vier pela frente. E ele será meu principal aliado contra as pequenas fraquezas do eu.

Desculpe, eu disse “fraquezas”? Não. Elas não fazem mais parte do meu vocabulário...


*Eu perdoaria facilmente seu orgulho, se ele não tivesse ferido o meu

Conteúdo do envelope:
Frente: papel espelhado.
Verso: "Eu matei narciso. Ajudei Maria Antonieta a ser guilhotinada. Estive sempre presente entre os deuses gregos, os reis absolutistas e hoje costumo ser convidado VIP nas festas de Hollywood e de qualquer high society do mundo.
Posso estar com você também. Fazendo você pensar e gritar 'Sou sempre melhor do que você. Do que todos vocês'. Vire e observe o verso dessa página. É um dos meus mais poderosos instrumentos"

3 Comentários:

Blogger MôNiCa disse:

Já q eu comentei no txt de todo mundo, vou comentar no meu tbm!!!
Agora q eu vejo o qto ele ficou pesado...será q eu estava tão amarga assim na época em q o escrevi?rsrsrsrs.
Bjs p/ todas!!!

7/26/2006 12:38 PM  
Blogger MôNiCa disse:

E o txt tá tão longo q eu não teria paciência de lê-lo novamente...hahaha

7/26/2006 12:45 PM  
Blogger Paty disse:

Espelho. O personagem mudo desse texto me é particularmente irônico. Difícil comentar sua resposta de forma imparcial, jornalística e impassível.

Ainda assim, arrisco-me e destaco o tom, que vai além do mero relato de uma dor-de-cotovelo. Há toda uma filosofia de vida, uma personalidade ao mesmo tempo coerente e contraditória. Pois alguém tão racional não se deixaria abalar por sentimentos. Isso, se a vida fosse em preto-e-branco, claro.... :)

Quer saber? Esse texto me assusta. Mesmo. :)

P.S: Ah, Moniquinha, deixa de ser chata. :D Eu li de novo, e o fiz com gosto!

8/07/2006 2:33 AM  

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