29.5.06

Resposta da Priscila ao Desafio XI

Marquinhos, menino de rua da Central, costumava ajudar a família fazendo malabarismos no trânsito. De esmola em esmola, pingoteava quase sempre um salário mínimo por mês. O dinheiro ia para os remédios da vó, para o supermercado e para as roupas dos irmãos, que mesmo mais novos já haviam iniciado o trabalho braçal. Quando tinha sorte, e considere sorte os dólares descolados dos gringos branquelões, recompensava-se gastando tudo no McDonald’s. Sentia um orgulho inenarrável ao exibir a sacolinha de lanches pro pessoal da comunidade.

Um dia, Marquinhos cansou-se dos malabares. Não que deixasse de reconhecer sua maior fonte de renda, mas aquilo era coisa de pirralhos. Estava crescendo, a voz engrossando, e ficava ridículo demais um paspalhão do tamanho de uma porta brincar com pinos e bolinhas na frente dos carros. Queria subir na carreira. Então chegou Wilton, homem experiente, prometendo-lhe um trabalho de sucesso. Não apenas a grana aumentaria em três vezes, mas também outros fatores, digamos, afetivos, melhorariam bastante. Wilton seria seu corretor nesta nova empreitada.

Marquinhos, então, deixou o trabalho antigo de lado e pôs-se a vender pirulitos. Segundo o “chefe”, este era um produto que estava em crescimento abusivo de vendas, e havia uma necessidade grande de oferta, ainda mais em certas regiões estratégicas da cidade. O menino começou o trabalho logo, oferecendo seus pirulitos vermelhos – os mais benquistos, palavra do mestre - nos arredores da Praça da Bandeira.

Havia moças interessantes no lugar. Muitas usavam batons vermelhos – combinando com a cor dos doces -, meias furadinhas e roupas tão coladas que deixavam sem ar. Algumas fumavam cigarrinhos de maconha, e homens horríveis aproximavam-se o tempo todo. Não queria contato com eles. Preferiu esperar uma brecha, para falar com as mulheres sem interferências negativas.

- Dá licença? Alguém aí quer pirulitos de morango?

Risada geral. Não satisfeito, Marquinhos continuou:

- Ta na promoção. Um é 30 centavos, dois é cinqüenta e três só paga um real!

Uma das mulheres, aproveitando a oportunidade, dirigiu a palavra ao menino. Queria ver os pirulitos num cantinho, por assim dizer, mais privê. Demonstrou interesse em comprar vários, talvez pra distribuir pros filhos, ao que tudo indicava. O menino acompanhou-a até um quarto de luz fraca. Sem entender nada, Marquinhos perguntou quantos ela queria levar. A mulher respondeu, com um grito, que gostaria de todos. Enquanto ela gritava, outros sons estranhos sobrevinham de cantos misteriosos, gritos e mais gritos, de mulheres e homens. Atordoado, Marquinhos quase desistiu, mas pensou na grana preta e resolveu ficar.

- No total custa 20 reais, moça.

O estoque de pirulitos ainda estava carregado. Acabar com aquilo em um dia só era bom demais pra ser verdade. Wilton ficaria orgulhoso, e a família mais ainda. Levaria todos ao McDonald’s no dia seguinte.

- Bobo! Bobão, você! Quem disse que eu vou pagar? Você me dá os pirulitos, eu aprumo as coisas, e daí tu me paga e vai embora, dotôzinho.

Sem entender nada, o menino deu com um pé atrás. Os doces estavam na promoção, sim, mas daí a querer que ele mesmo pagasse pra vende-los, já era demais. Antes que pudesse retrucar, quem sabe oferecendo o produto como a alegria da criançada, Marquinhos levou um susto. A mulher agarrou-o pelo tornozelo, levantou sua a camiseta e puxou abaixo as calças, gritando que nem uma porca elétrica. Havia mudado de idéia, de uma hora para a outra. Queria oferece-lo tudo, absolutamente, a troco apenas dos pirulitos.

- Vem, mocinho, vem, eu quero te fazer feliz agora! Hoje eu to boazinha, colega, aproveita!

Antes que mulher arrancasse sua cueca, Marquinhos recolheu o cesto e correu tropeçado pra fora dali. Havia mudado de idéia. Malabarismo pode até ser ridículo, mas o trabalho ao menos tem segurança. Ele nunca entenderia...

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse:

Preste mais atenção na matemática! Se dois é cinquenta, com um real eu compro 4, não???
Adorei a porca elétrica, apesar de, na qualidade de engenheiro eletricista, não conseguir ser capaz de conceber o conceito matemático e mecânico por trás de tal engenhoca.
Vendendo tudo por 20 reais, ele conseguiria, no máximo, levar um acompanhante no McDonalds... sabe quanto custa um BigMac?
Ter pai formado em engenharia dá nisso! Agora aguenta meus comentários!!!! hehehehe

8/03/2006 4:11 PM  
Blogger Unknown disse:

ricardo, voce se formou na turma de 82 da UGF, se for por favor entre em contato, tcperez@uol.com.br

11/27/2007 8:20 PM  

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