10.9.06

Resposta da Aline ao Desafio XV

Hino


Comigo você foi a maior de todas. A mais rica. A mais bela. A mais forte. Minto; você fraquejou. E por isso nós estamos assim, agora: você arrasada, eu à beira da morte.

Sim, você fraquejou, como fraquejara antes. Mas não pense que deixei de amá-la por isso. Você estava na miséria quando se tornou minha musa; talvez eu tenha uma certa admiração pela sua beleza decadente. O fato de eu lhe ter restituído o brilho quando a conquistei torna meu amor ainda mais fervoroso. E lá, no topo, onde nós estávamos juntos, você era absolutamente linda.

O começo foi difícil. Tudo estava contra nós. Mas eu conhecia as suas falhas, conhecia os seus problemas, e conhecia as soluções. E não demorou para que eu a convencesse disso. Comigo você mudou, a ponto de não restar sequer sombra da desgraça em que estava antes de me conhecer. Você era outra. Você atraía olhares.

E foi aí que começou a dor de cabeça.

Não que eu me importasse com a inveja delas, é claro. Pelo contrário; aquilo me alimentava a declamar o nosso amor pra quem quisesse ouvir, e muita gente ouvia, você sabe. Se eu soubesse na época a influência que a inveja delas teria sobre você, talvez tivesse sido mais discreto, ainda que eu seja um entusiasta da grandiosidade.

Mas eu não tinha motivos para ser discreto quanto à minha meta: fazer você brilhar ainda mais. Elas não suportavam a idéia de serem menos importantes, foi por isso que passaram a observá-la. Passaram a criticá-la. E foi aí que você errou. Por que você deu ouvidos a elas? Elas não sabem o que é melhor para você. Eu sei.

Nenhum outro antes de mim teve coragem de atacar diretamente os seus defeitos. Decerto tiveram medo das conseqüências, talvez até sentissem pena, achassem que você não fosse agüentar. O que é mais uma prova do meu amor: ninguém se fortalece com a piedade dos outros. Nada é capaz de evoluir enquanto todos ao redor tentam facilitar as coisas. Enquanto todos tentam encobrir o verdadeiro problema, por saber do trabalho que terão para consertá-lo.

Pois eu não tive medo do trabalho, e acima de tudo, não tive a menor pena daquele bando de imprestáveis que se divertiam às suas custas. Filhos? Um filho verdadeiro não explora a própria mãe até lhe sugar todas as forças. Aquela corja não tinha por você qualquer tipo de amor, que dirá o amor filial; e se morreram, é porque não prestavam mesmo para o trabalho. Filhos? Pois sim. Aquilo não eram filhos. Eu mostrei a você o que eram filhos.

Veja bem, não é como se eu quisesse entrar em guerra com elas. Eu sabia, claro que eu sabia, que elas demorariam a admitir a sua superioridade. Mas elas eventualmente aceitariam, e você, não, e nós seríamos admirados pela nossa grandeza, pela nossa capacidade de superar as adversidades. Teria sido assim, se você tivesse resistido aos ataques insistentes das outras. E você reagiu bem, no começo. Nem chorou pelos bastardinhos. Chegou a me encher de orgulho.

Mas não demorou para que você desmoronasse sob os punhos que a sustentavam tão firmemente.

Ainda assim, eu fiz o que pude. Mas o que mais eu poderia fazer se você preferiu ouvir a elas do que a mim, que a conheço tão bem? Se alguém permitiu que o nosso futuro juntos fosse destruído, se alguém quis que nós fôssemos afastados, não fui eu – essas ações partiram de você, por ter se deixado levar por elas. Agora está aí, acabada mais uma vez, depois de toda a glória que eu lhe dei.

Mas eu não guardo remorso, e essa é a prova maior de meu amor. Pois se agora me encontro prostrado aos seus pés com meu porvir resumido a uma bala de revólver, acredite, é para que você jamais se esqueça de mim. Para que eu fique em definitivo gravado na sua memória, na sua história. Assim, mais tarde, eu sei que você vai se lembrar novamente das minhas palavras. E talvez então você se dê conta de que eu estava certo.

Porque eu ainda a amo. E você, minha nação, estará sempre acima de todas.

7 Comentários:

Anonymous Anônimo disse:

LINDAAAAAAAAAAAAAAAAAS!! UM BJO DO RAPHAEL, LÁ DA ECO!!! FINALMENTE ACABEI DE LER A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER, É ÓTIMO!! BJAO

9/12/2006 12:56 AM  
Blogger L. disse:

Deutschland über alles.

Sabe?
Desde o começo eu tinha certeza de que não se tratava de uma mulher; imaginava, inclusive, que fosse uma nação, uma empresa ou algo assim. Qualquer coisa da ordem do governável.
Mas não, eu não matei depressa, muito pelo contrário. Entendi o seu texto com uma bala no meio da testa. E que delícia é reler, enquanto o cérebro ainda fervilha.

Foda, gêmula. Foda!

(E um viva para o Raphael, que acabou de ler "A Insustentável Leveza do Ser"! Eu quero ler também! XD)

9/12/2006 3:49 PM  
Anonymous Anônimo disse:

Alguém viu esse caminhão que passou por aqui? Acho que ele me atropelou, mas nem disso consigo ter certeza.
Fantástico!


P.S. Bean... bean... bean...

THE UNBEARABLE LIGHTNESS OF BEING!!

9/12/2006 4:50 PM  
Anonymous Anônimo disse:

(Orgulhosa por ter sacado rápido qual era a do texto)

Querida, acho que esse texto maravilhoso tá brigando ferrenhamente com o "Mortalha"(Desafio V) pelo título de melhor coisa escrita por ti que eu já li. Sensacional a sacada de abordar o amor doentio pela pátria! E também me impressiona a humanização de um dos maiores monstros que a História já conheceu. No seu texto, ele parece alguém que, de fato, tinha sentimentos e conseguia amar algo, nem que esse amor destruísse o país que nem dele era.

Superfantastich!


PS: Só tenho uma crítica: você deia ter mantido o título como 30 de abril, meu aniversário, heheheh. Afinal, é um dia importante na História, mas não pq Hitler se suicidou, sim pq eu nasci! Hahahahahahahahahhhahahaahahh!

9/14/2006 10:55 AM  
Anonymous Anônimo disse:

nossa, vcs são muito cultas... confesso humildemente que não teria a massa cefálica pra escrever um negócio desses, negócios desses...

aliás, pane tonal... é cefálica ou encefálica?? Tô dizendo...

9/14/2006 1:25 PM  
Blogger Aline Brandão disse:

Lá isso é. O nascimento de Mari Maluca compensa todas as guerras... ;D


Natalia: liga não, Alemanha já é meu vício mesmo. Não tem nem graça mais! XD

(E acho que é encefálica. Acho. Agora que parei pra pensar, não sei. XD)

9/14/2006 5:11 PM  
Blogger MôNiCa disse:

Puta que pariu. E isso resume todo e qualquer comentário que eu possa fazer sobre esse texto que, com certeza, é o melhor que vc já escreveu.
Bjs, linda!

9/28/2006 3:42 PM  

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