16.9.06

Resposta da Mariana ao Desafio XV

O amor vai nos destroçar

Londres, 21 de agosto de 1992.

Querido Fred,

Espero que, quando esta lhe chegar, a Ciência já tenha descoberto como devolver a vida a um cérebro sem alma e a um corpo sustentado por aparelhos e pela esperança. Esperança de milhões ao redor do mundo, que passam dias a rezar pela paz do seu espírito enquanto me xingam.

Eles não entendem.

Eu também rezo todos os dias. Aqui, nesta igreja com pilares de grades e santos armados com porretes, eu te peço que compreenda o que fiz por você. Por nós dois.

Hoje mesmo estava ouvindo a sua versão de “Love Will Tear Us Apart”. Isso parece um comentário tipo nada a ver, até porque essa nem é a minha favorita, mas é que ela tem tudo a ver com a gente e vez ou outra a escuto para relembrar. Muito melhor o som da sua voz do que os gritos de “Assassino!”, “Facínora!” e “Monstro!” dos seus fãs.

Também me chamam de fã. Falam de mim lá fora como “o fã que estrangulou Fred Strike”, assim, como seu eu fosse qualquer um desses loucos que só sabem gritar freneticamente e só conhecem “Fiery Dancefloor” e “Let Me Go”.

Não, eu não me contento com a etiqueta de fã e me pergunto todos os minutos qual deles teria a coragem de fazer o que eu fiz quando renunciei a mim mesmo e me enterrei neste cemitério de monstros vivos por você. A verdade é que nenhum deles se importava com você, só queriam saber de música, foto e autógrafo. Aposto que eu era o único que percebia como o sucesso estava te sufocando, não te deixava mais levar a vida de um cara normal e que o excesso de flashes estava começando a ofuscar o Frederick David Strike por trás do Fred Strike. Pois só eu fui capaz de entender a tristeza e o stress camuflados em cada show bombástico e a cada entrevista descontraída.

Por isso, Fred, eu fiz o que fiz. Mas, infelizmente, as coisas fugiram do meu controle. Meu plano perfeito para o final feliz falhou e a culpa é sua. Não pense que estou sendo rude contigo, só estou falando a verdade.

Quando me aproximei de você naquele dia (o mais fatídico e feliz de toda a minha vida), mal pude acreditar na minha sorte: você estava sem os armários falantes que guardavam as suas costas. Mas você entendeu tudo errado, achou que eu queria um autógrafo e uma foto, como todos os seus fãs. Eu não sou um fã comum, já disse. Eu não sou como os outros, os outros se contentam com lembrancinhas e musiquinhas. Eu queria mais. Queria você. Queria você só pra mim, protegido da mídia e dos fãs, queria tirar você de todos eles e guardar só pra mim, mas você não entendeu. As minhas mãos apertando a sua garganta foram o resultado do seu não-entendimento, do seu desprezo à minha devoção.

E agora, desde aquele dia, estamos separados de novo. As grades inquisidoras, os gritos enclausurantes dos fãs e o sono eterno do seu cérebro mantido por máquinas esperançosas e cegas impedem o nosso reencontro. Mas, como eu disse antes, rezo todos os dias para que o Deus do Impossível ressuscite a sua mente e me absolva do calvário-espetáculo que me aguarda. Enquanto o Impossível não acontece, só me resta esperar para te salvar e ter você pra mim. Pra sempre.

Obrigado,

Aquele que mais ama Fred Strike.





1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse:

Um retrato interessante de mentes perturbadas. No fim, todos estão certos, dependendo do ponto de vista. O importante é que a nossa própria justiça nos absolva.
E o amor, como em qualquer situação, move o mundo. Mesmo aflorando como anti-amor...

Bom, minha primeira passagem por aqui! Gostei bastante do conceito do blog... depois eu vou ler mais

beijos pra Mari e para a Pelega da Pri. Parabens a todas tbm!
ahhh... e chega, ne? tchau!

9/17/2006 8:56 PM  

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