Resposta da Mariana ao Desafio III
Gritos
Um ponto de tinta. Símbolo do impulso original que inicia as coisas e acaba com o outrora eterno vazio. A demarcação da fronteira entre a inércia branca do papel e a potência dos versos. É assim, num pontinho preto de caneta desvirginando um papel, que a explosão de beleza lírica encontra seu começo.
Mas quem disse que a autora da digníssima poesia que vos fala a deixa abandonar o abstrato reino das idéias e assumir uma forma decente em tinta? Duvideodó!
Aliás, minha autora é uma idiota. Sente-se muito mais segura e estável com a anarquia verbal da minha irmã prosa do que com a nobreza métrica e rímica dos versos que me compôem. Apenas em ocasiões especialíssimas ela deixa de lado sua enormíssima frescura e resolve dar atenção aos meus constantes gritos em sua mente.
E essa pode ser considerada uma ocasião especial. Mais do que todos, eu sei o que se dá no interior da alma de minha escritora: outra dor de corno para iluminar o universo escuro e sem estrelas que é a sua mente. Infelizmente, a moça não tem sorte com os homens. Mas, se afortunada fosse, ainda mais inaudíveis seriam os meus gritos para ela. Afinal, há de se reconhecer que a tristeza gosta muito mais de me ver materializada em versos do que a alegria, em sua soberba feliz.
E, finalmente, é chegado o momento. A mça abandona seus pudores autocríticos e decide me conferir a glória de ser escrita. O tão esperado e desejado primeiro ponto de caneta se faz presente e traz consigo uma plêiade de novos pontos e sílabas, que tentam, insistentes, exprimir o que caminha nos labirintos do cérebro de minha escritora. Em um átimo, fico assim:
Romântico, tórrido e intenso
Como monocromática geleira
Belo, fascinante e gracioso
Como a chuva cinzenta e faceira
Transparente e verdadeiro
Como turva água do mar sujo e raivoso.
Fo...
É, ela não terminou. Realmente ela não me trata com carinho, preferindo me atirar na lixeira, como absorvente descartável. De alguma forma, eu sabia que esse seria o meu destino, já o foi tantas vezes...
Mas tudo bem, Mariana, pode me descartar dessa vez. Mas saiba que meus gritos nunca silenciarão, mesmo que a eles você não dê atenção. Afinal, estou entranhada em você.
Um ponto de tinta. Símbolo do impulso original que inicia as coisas e acaba com o outrora eterno vazio. A demarcação da fronteira entre a inércia branca do papel e a potência dos versos. É assim, num pontinho preto de caneta desvirginando um papel, que a explosão de beleza lírica encontra seu começo.
Mas quem disse que a autora da digníssima poesia que vos fala a deixa abandonar o abstrato reino das idéias e assumir uma forma decente em tinta? Duvideodó!
Aliás, minha autora é uma idiota. Sente-se muito mais segura e estável com a anarquia verbal da minha irmã prosa do que com a nobreza métrica e rímica dos versos que me compôem. Apenas em ocasiões especialíssimas ela deixa de lado sua enormíssima frescura e resolve dar atenção aos meus constantes gritos em sua mente.
E essa pode ser considerada uma ocasião especial. Mais do que todos, eu sei o que se dá no interior da alma de minha escritora: outra dor de corno para iluminar o universo escuro e sem estrelas que é a sua mente. Infelizmente, a moça não tem sorte com os homens. Mas, se afortunada fosse, ainda mais inaudíveis seriam os meus gritos para ela. Afinal, há de se reconhecer que a tristeza gosta muito mais de me ver materializada em versos do que a alegria, em sua soberba feliz.
E, finalmente, é chegado o momento. A mça abandona seus pudores autocríticos e decide me conferir a glória de ser escrita. O tão esperado e desejado primeiro ponto de caneta se faz presente e traz consigo uma plêiade de novos pontos e sílabas, que tentam, insistentes, exprimir o que caminha nos labirintos do cérebro de minha escritora. Em um átimo, fico assim:
Romântico, tórrido e intenso
Como monocromática geleira
Belo, fascinante e gracioso
Como a chuva cinzenta e faceira
Transparente e verdadeiro
Como turva água do mar sujo e raivoso.
Fo...
É, ela não terminou. Realmente ela não me trata com carinho, preferindo me atirar na lixeira, como absorvente descartável. De alguma forma, eu sabia que esse seria o meu destino, já o foi tantas vezes...
Mas tudo bem, Mariana, pode me descartar dessa vez. Mas saiba que meus gritos nunca silenciarão, mesmo que a eles você não dê atenção. Afinal, estou entranhada em você.
4 Comentários:
By Alan Smithee.
Alan Smithee é o cacete! :D É teu mesmo, e assuma logo: intenso, visceral, debochado. É você até as entranhas. E, justamente por isso, é sua melhor obra!
Simplesmente genial retratar a cena do ponto de vista da poesia. O primeiro parágrafo está além de qualquer adjetivo, fantástico é pouco!
E quer saber de uma coisa? Esse texto é poesia pura. O parágrafo final, maravilhoso, apenas confirma isso de forma ironicamente metalinguística. Quem disse que poesia é só a "nobreza métrica e rímica"?
Só discordo de uma coisa: nem só de tristeza é feita a poesia. Tenho lá meus versos alegrinhos pra servir de contraprova! :)
P.S: "Plêiade" e "átimo"?? Eu te odeio! :D
Você joga um jogo sádico de escode-esconde com a tua poesia. Ela se sente maltratada por sua resistência melancólica, mas não será ela a te maltratar, quando te engasga com sua ânsia nobilesca no momento em que você mais precisa dela?
Teu texto tem uma polifonia interessantíssima. Uma esquizofrenia poética, uma alternância de lirismo e escarninho que só podia mesmo ser obra da senhora dos devaneios insólitos, da minha irmãzinha caçula. Parabéns pela coragem de apontar o dedo pra si mesma e, é claro, pelo estilo irrepreensível de chamar o leitor para si. Isso é todo você.
(Laiás, você já parou pra mensar no significado do teu nome, lindinha? ;o))
E ALAN SMITHEE É A (#&%@)!!!
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